segunda-feira, 21 de março de 2011

Um susto e um recomeço

Este é o último texto publicado em Afrodite, edição janeiro 2011. Ainda esta semana, o próximo estará no ar!




UM SUSTO E UM COMEÇO...

Era meio dia num lindo domingo de sol.
Ela ouvia as badaladas do sino da Catedral, no mesmo instante em que sentia o cheiro gostoso do almoço feito pelo marido. Sim aquele mesmo amor que a acompanhava a bons anos e que hoje falava dos temores de perdê-la...
Ela quase partira. Não para uma viagem qualquer... Um acidente bobo com o corpo após um procedimento de rotina a fazia se questionar até onde se arriscaria em prol da beleza.
Concluía que o corpo é uma máquina. Bem feita, de engrenagens nada sólidas.
Engrenagens que esmorecem com o passar do tempo, que se transformam sem que os olhos percebam.
Pensava sobre isso após uma amiga ter-lhe dito: “Pare um pouco, seu corpo não é uma máquina”.
Parecia que se parasse, o fim estaria perto.
A vida sempre agitada não lhe permitia paradas. Estava descuidando de algo, e não percebia que era da saúde. Pensava que assim como ela, várias pessoas vestiam uma  carapuça de ferro: “isso nunca acontecerá comigo, sou forte, e não tenho tempo para perder com bobagens...”
Bobagens!?
Entendeu sob fortes complicações que cuidar de si não era bobagem.
Parar, não era perda de tempo.

Prometeu então mudar. Cuidar de si e de quem ama.
Prometeu que a lista de desejos para 2011 teria motivos para se orgulhar.
Motivos para viver bem.

Em primeiro lugar cuidaria do tempo que investe em si. Praticaria exercícios físicos assim que o medico a liberasse, comeria pratos coloridos, não tomaria mais refrigerante e nem precisaria mais da “bendita” fluoxetina. Nada de cigarros e festas regadas a bebidas alcoólicas. Elas não fariam mais parte do seu fim de semana. Estaria de bem com a vida, sem estresse, aprendendo a levar o tempo que dispunha (será? Isso tudo era tão distante dela que teria que disciplinar-se com rigor).
Rezaria mais. Incrível como só lembrara que tinha um Deus amigo por perto quando precisara dele. A fé estava adormecida. Não era descrente, mas não cultivava o hábito de conversar com Deus, nem para agradecer nem para pedir. Era a hora de começar a agradecer (afinal estava viva!).
Cuidaria claro do marido. Sabia que estava o colocando num plano meio mediúnico. Poucas conversas e psicografando sentimentos. Nunca tinha pensado que chegaria neste ponto de relação. Sabia, porém que tinha salvação. E estava pronta para salvar. (E o pior, ele a avisava constantemente... “Na sua vida não tem tempo pra mim, você só pensa em trabalhar”...)
Estava ai uma nova promessa. Administraria o tempo, voltaria a estudar e repensaria na carreira. Uma nova especialização, ou um mestrado quem sabe. Uma mulher jovem como ela precisava de desafios constantes. Parar no tempo não estava em seus planos. Ah sim, voltaria a estudar línguas (quase esquecera do detalhe das línguas...  precisava voltar a praticar o inglês e o italiano. E quem sabe aprender o francês ou o espanhol?).
Também não reclamaria mais do emprego novo. Mesmo que os desafios fossem conhecidos. Lembraria que estava numa empresa nova, com pessoas novas e que poderiam fazer diferente.
Viajaria. Em todo feriado que pudesse convidaria o marido para pequenas “luas de mel”. Estariam mais próximos um do outro, teriam uma vida só.
Investiria num plano de previdência privada e compraria um terreno na praia. De preferência próximo aos amigos. Assim poderiam dividir bons momentos durante o ano.

E o mais importante, desta vez só estava se prometendo aquilo que poderia cumprir.

Fazia o que todos fazem num novo começo. Para ela desta vez, não era só a chance de começar um novo ano. Estava começando uma nova vida (tinha ganho uma segunda chance e não queria desperdiça-la). Estava resgatando o compromisso que tinha em ser e fazer feliz.
Talvez tivesse sim que ter tido um bom susto para aprender que não basta saber o quanto importante são as pessoas. Temos que dizer. Poucos entendem aquilo que não dizemos.
E falar “Eu te amo” não é nenhum desaforo!

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"Estamos aqui para aprender..."

O tempo é mesmo injusto, se aproveita das nossas tristezas e as transforma em oportunidades!

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